aprendendo a costurar

aprendendo a costurar

 

Toda vez que vou colocar a linha na agulha da maquina é uma luta. Ou porque a linha é mais grossa e não tem passagem ou não estou enxergando direito ou ainda a claridade da lâmpada não é suficiente.

 A maquina é boa, nunca reclamou nem de estar aqui muito menos comigo. Trabalha direitinho, silenciosa. Já a agulha e a linha estão sempre de briga uma com a outra.

 Quando o tecido exige que a cor seja alegre ela fica toda radiante, na verdade o que mais gosta é do amarelo, envaidecida como só, acreditando que é ouro. Torce o nariz quando chega a marrom, não gosta.  Acha  que vai ficar suja, reclama o tempo todo. Com o branco, trabalha em paz. Fica nervosa com a linha frágil. ta a todo vapor e  arrebenta.

 Hora de parar e começar tudo de novo.

 A cor vermelha transmite alegria e lembra vida. Ninguém segura, tagarela o tempo todo.

 Linha preta durante o dia sem problemas, mas a noite nem pensar! Manda esperar o dia clarear. Não aceita nem com luz acesa.

 Um dia desses a cor exigida era palha. Ficou de cara amarrada. Chegou a pegar birra. Achou sem graça. Aumentou o barulho durante a costura só pra chamar a atenção.

 Às vezes a confusão é tamanha que preciso substituir a agulha. Mas é divertido.

 Costurar por obrigação não tem graça o bom mesmo é por prazer. Aliás, tudo tem de ser feito com alegria, coragem e determinação. Respeitando sempre as ferramentas usadas e cuidando bem delas.

 Costura lembra máquina e vem a tona uma historia bem recente.

A máquina bem na minha frente é elegante, leve, chegou aqui em casa como presente da minha filha que cansou de ouvir os lamentos por não ter conseguido trazer uma antiga, de estimação que já era minha companhia por vários anos. Ela não era elétrica, tinha um pedal e correia cuja energia que a movia era os movimentos dos meus pés.

 Sempre que tinha uma folga estava eu la a consertar uma bainha, apertar uma calça, ajustar uma blusa. Até remendo para festa junina era colocado junto da criançada.

 Pura diversão, uma grande alegria vivida por mim e meus filhos que foi interrompida quando na partilha dos bens.

Naquela ocasião meu ex marido não permitiu que ela fosse retirada de sua casa.  O Juiz propôs a partilha dos bens. Como eu estava deixando minha casa quem ficou não queria se desfazer de nada. Pedi e perdi duas vezes e nada de ceder. Num determinado momento do impasse falou a autoridade: ele vai aprender a costurar. Todos nós concordamos que era exatamente isso que deveria acontecer.

 Quando não há possibilidade de acordo não adianta ficar tentando ganhar no grito. Era melhor ficar sem do que comprar uma briga que não levaria a nada. A maquina ficou, como ficaram tantas outras coisas.

 Hoje tenho uma super moderna, levíssima, posso levar para onde quiser, não ocupa espaço e nem exige esforço salvo tolerar a briga da linha com agulha. Certamente não terei de dividir e sim tempo para divertir.