viuva de sogra

viuva de sogra

 

Muita coisa já se ouviu sobre sogra.

 Alguns dizem que é boa gelada e em cima da mesa, outros que é uma cobra e  coisa mais depreciativas.

 Ocorre que não posso deixar de registrar que a minha era maravilhosa. Uma companheira inseparável pra mim, meus familiares e em especial para meus filhos.

Tivemos uma convivência de mais de 18 anos.

 Agradeço a Deus todos os dias, pela oportunidade de conviver com pessoa de tamanha bondade, caráter, dignidade e acima de tudo solidaria, católica praticante, fazia parte da irmandade do coração de Jesus. Rezava o terço todos os dias e tinha a oração das 3 da tarde.

 Não gostava muito de TV. Só assistia programas de cunho religioso e jornal. Para isso mandei instalar uma antena parabólica.

 Gostava muito de ler. Até as bulas de remédio serviam de passa tempo.

 A certeza de encontra-la sempre que voltava pra casa fazia mais leve as responsabilidades do dia a dia. Éramos confidentes e parceiras nas alegrias, na dor e na educação dos meus filhos.

 Quantas e quantas noites ficamos acordadas cuidando das crianças com febre, resfriados, dor de barriga, insônia (criança tem insônia, pesadelo, medo).

 Nossos passeios no sitio nos finais de semana. Domingo, assim que terminava a missa das 8, La íamos dar uma volta pela cidade e tomávamos sempre o caminho da roça . Apreciávamos o crescimento da cidade, o conserto nas ruas, as crianças bincando...

 o lugar que gostava de ir era na casa do seu irmão mais velho, na fazenda onde nasceu. La passava o dia.

As vezes pedia pra ir na casa da minha mãe. Adorava o tutu de feijão.

Passava a semana contando as novidades do domingo aguardando o próximo. Jamais reclamava ou passava mal viajando. Claro que as viagens era em trechos pequenos pois a idade já estava avançada, não permitia exageros.

 Sempre atenta na alimentação, tomava banho sozinha, mantinha os cabelos sempre limpos e presos em forma de coque. Dificilmente permitia que eu lavasse se quer uma camisola usada por ela, exceto quando adoecia.

 Era uma pessoa independente que sabia conviver com qualquer um em qualquer situação.

Quando decidi reformar parte da minha casa e meu marido foi contra ela ficou literalmente a meu favor e fizemos a reforma. Obra complicada, gente estranha em casa o dia todo, material de construção espalhado, telhado sendo colocado a baixo, colunas subindo, decidimos trocar, provisoriamente de endereço. Não dava pra ficar com criança e idoso naquela situação. O lugar escolhido foi no campo, longe da poeira e do barulho. Não houve hesitação por parte dela. Tinha objetivo. Queria ver tudo arrumado e bonito. Sabia apreciar o que era bom e não havia teimosia com ela.

 Quando retornamos ficou satisfeita com o resultado.  Embora muita coisa tenha ficado  por fazer ainda. Comparado ao antes ta usável. Obra em casa nunca acaba, ainda mais casa velha construída no período em que o meio de transporte era carro de boi.

 Infelizmente viveu pouco pelo tanto que gostaríamos que ainda estivesse aqui. Quando estava muito doente chamou-me ao seu lado, a voz já estava sumindo, me disse que eu não era nora dela (levei um susto, respirei fundo e aguardei, pareceu uma eternidade) disse que era filha. Sinceramente afirmo de todo coração que hoje sou viúva de sogra. Companheira igual nunca tive! Saudade eterna!